quarta-feira, maio 10

Medos e memórias

minto
no silêncio transparente
das palavras que guardo em mim

sinto
vislumbres nús de ti
em gestos habituais, sinceros

os teus lábios entreabertos
[porta acanhada...
horizontes do que sentes...
perco no que me dizes
o tamanho das palavras
o caminho estreita entre nós
sem lugar para o lugar
sinto o sabor da fruta
o teu sabor
[memórias...
um aroma forte de mel
já não é fruta
é dor
já não é mel
é fel

terça-feira, abril 18

nunca foram meus os olhos
que com os meus se cruzaram
nem meus foram os lábios
que, sedentos nos meus pousaram

nunca foram meus os braços
que o meu corpo aconchegaram
nem meus foram os dedos
que com os meus se entrelaçaram

sobra agora o amor que canto
em poemas de
dor
desespero e
pranto
a esperança é quimera
sombras, sonhos, desencantos
[brisa...
silêncio...]

Como se fosse preciso...

Como se fosse preciso
para guardar de ti,
o teu riso
levar de ti,
um pertence...
carrego comigo
o teu gesto
levo gravado
o teu rosto
escrevo, sublinho
o teu nome
como se o tempo nos afastasse
como se fosse possível...
(encho de nada o teu espaço)
como se fosse preciso...

sexta-feira, março 31

Filho

Habitas o riso e a luz
a alegria e a paz
na mesma atitude
és baga de mel
constelação de flores
no mesmo lugar
és novembro e agosto
sem pressa nem vagar
és pássaro livre, raíz de carvalho
perfume e cor, frescura de orvalho
miosótis colorido, arco-íris perfumado
condensação perfeita num sorriso ensolarado
és sílaba, verso, grito de amor
és tudo, filho
no mesmo poema

Sem Ti

A palavra que não escrevi
O gesto que guardei
O calor que apaguei
Do abraço que fugi

Tudo mora agora
em mim
Tudo sobra agora
sem ti

sexta-feira, março 24

BIPOLARIDADE

Era(s) o riso mais riso
que eu conhecia
Ria(s), sorria(s)
quando entardecia
Ria(s) chorando e
Chorando sorria(s)
Era o riso mais riso
que eu conhecia
[que eu via sorrindo
e me entristecia]
...
Era(s) o riso mais riso
que me conhecia
Ria(s) falando e
Escutando sorria(s)
Os que não riam, choravam
depois já sorriam
malícia já viam
e sem riso, sorria(s)
mas entristecia(s)
Esboços fazia(s) enquanto sorria(s)
Sorria(s) escrevendo enquanto esquecia(s)
O que rindo e sorrindo
Não adormecia(s)
Passava-se o tempo e
O riso era riso
[ esquecer não esquecia(s)
E o riso era riso
Não era Alegria
Era o riso mais triste que eu conhecia

Maria

Semeavas a alegria
entre risos e flores

Habitavas a luz
quando a noite se impunha e
as trevas, velozes
Ganhavam terreno
em pétalas caídas
Clamando sorrisos
entre as flores e abraços
[teus]
Abrindo caminho
um manto de silêncio povoava assim...

sexta-feira, março 17

Para a Maria

os versos mais belos
apagam-se cedo
ainda na mão
apaga-os o medo
sempre em segredo
...morrem em vão
nem seca a tinta
dos versos ardentes
mas deixa sementes
caídas no chão...
Pobre trigo em farinha
que não chegou a ser pão...
Escuto
entre os versos que risquei,
rascunhos de um poema amarelecido
sussurros...
esboços de um sorriso
esquecido
sombras de um rosto
vagueando, ocultas
no vento.
vertigem...

quinta-feira, março 2

pinto na tela, os teus passos
um outrora vermelho, rubro, púrpura
vivo
a tua voz,
sílabas calcinadas de uma palavra
que há muito não ganha forma...
o teu nome sussurrado nas pétalas...
[o vento
o Nada sobrepõe-se.
E choro. E choro. E choro.

sábado, fevereiro 18

quando me olhas assim, compassadamente
... sem pressas

é mais fácil, amor
contar mil estrelas em uma só noite...
não posso já resistir-te,
mais do que o tempo que a terra resiste à semente.
... vê como a rosa cresce
[depois do orvalho.

quarta-feira, fevereiro 15

poemar...

decifro as sílabas que o vento susssurra
nas folhas caídas e secas
o teu riso inscrito na pedra...
o poema nasceu.
sem paredes
no vento, na noite, na terra...
já não posso voltar a dançar
com o meu vestido de seda
rubra
[na lua
já não serve em mim, a brancura
resta agora a água escura
dos teus olhos
para mim fechados]
já não cabe em mim, a doçura
dos anos de outrora vividos
já não cabe em mim...

segunda-feira, fevereiro 13

Aurora

Quero acordar de manhã
e ver-te sossegado, dormindo
cercar-te a cintura
envolver-te num abraço, maroto
receber o teu beijo molhado pela
aurora
esconder-me nos teus braços, tua
fronte na minha
minha boca na tua
os nossos corpos atados, secreta doçura
gotas de orvalho, ardentes,
douradas
rolando fundidas, desaguando
por fim
entre mim e ti
entre ti e mim
- uma só gota

Naturalmente

Quando os teus olhos, amor
com os meus se cruzaram
porque se detiveram, então?

Campo de trigo, onde o sol pousou,
gotas de orvalho, molhando a aurora
recebi o teu beijo,
como o dia, a luz
recebi o teu amor
como o mar, o sal
... naturalmente.
"Incendiasse eu o choro
até o sal se erguer em duna"

- Carlos Frias de Carvalho
Apagasse eu o fogo
até as chamas cairem em cinzas
velhas, cansadas da luta
com uma terra
que não muda.
Humildes chorões, reclinados
Narcisos nas águas de
um rio, que
teimosas
prosseguem...
sem piedade,
... Prosseguem.

Sou

olhei-me no reflexo do espelho
Bailarina, em palco brilhava
rodopiando entre aplausos e ovações

na luz imensa da imaginação

voltei a olhar e
[afinal
sem aplausos, olhares, atenções
sem brilhos, luzes ou cor
Sou mulher, menina ... ninguém.
- Alguém que para alguém sou
- Alguém que para outros ninguém
... apenas EU!
Guardei teu rosto em mim
qual poema na terra enraizado

cicatriz perpétua de uma ferida
efémera
na rocha gravada.
[Eterno...
Apagasse eu o fogo
até as cinzas se erguerem
em pranto
o teu nome a consumir-se
no tempo
fios de silêncio
a reclinar-se
a tua imagem
a diluir-se
nas luz]

sábado, fevereiro 11



é tão fácil, amor
guardar de ti
o teu nome
enraizar em mim
o teu riso
difícil é, opor
ao fogo,
o silêncio
às lágrimas,
a luz
aos espinhos,
a piedade
... a cicatriz
pétalas são preces
gritos de amor
feridas que sangram
de uma garganta
em pranto

sexta-feira, janeiro 20

"Tão curta a vida
tão comprido o tempo

Feliz quem o não sente
quem respira tão fundo o ar do mundo

que vive me cada instante
eternamente."

- Gonçalves Crespo

Caiem as pétalas, lentamente

como dias que passam
[efémeros.

morre a flor


Para sempre.]

Paradoxo


Violenta é a luta
para te libertar de mim.

Fortes as raízes com que te prendo.

Não quero.
Quero.

- Mentira
- Verdade

Quero abraçar-te, amor
E esquecer-me da saudade
... de não te amar.
Fechar os olhos e
Esconder-me nesse abraço
do sal que queima
o nosso beijo.
Cinzas restam,
apenas.

"sinto em mim anseios imortais"


sussurra, inesperada dentro de mim
uma voz

[de liberdade

E sinto anseios imortais.

Soltar os grilhões,
é o que quero.
Perder-te,
o que não quero.
E fico.
[Assim...

Ambição

Imobilizo o passado
com fervor

Acalento a esperança
A repetição...
...
Já não chega, o teu olhar
- Profundo, casual???
Um sorriso,
bastaria.
Por hoje!

quarta-feira, janeiro 18

Inacessível...

Perco a Coragem.]
Anulo a Verdade
[Irresponsável.
Em prol da mentira
[Aguilhoada.
E abraço o teu perfume
Inacessível...
Apenas.

Contracenso II

Dançam os meus olhos sem cessar
Numa frenética dança sensual
Buscam, profundo e cristalino,
[o teu olhar
Sedutor Contracenso do Real!
Moveria Montanhas
Eliminaria Distâncias
Criaria Profundidades
... Abraçaria o teu perfume.
[Inacessível...
Irónico Contracenso do Real?

Contracenso

Procuro-te
no frio da manhã
Por entre a multidão
...em vão
Águas cristalinas de um olhar
Onde um dia mergulhei,
[casualmente
Procuro o momento em que
fugaz,
Profundo, o meu olhar te ofereci
Negro, cisne solitário
Ao teu, me proibí.
Irónico Contracenso do Real!
A ti, o meu me proibí!