sábado, fevereiro 18

quando me olhas assim, compassadamente
... sem pressas

é mais fácil, amor
contar mil estrelas em uma só noite...
não posso já resistir-te,
mais do que o tempo que a terra resiste à semente.
... vê como a rosa cresce
[depois do orvalho.

quarta-feira, fevereiro 15

poemar...

decifro as sílabas que o vento susssurra
nas folhas caídas e secas
o teu riso inscrito na pedra...
o poema nasceu.
sem paredes
no vento, na noite, na terra...
já não posso voltar a dançar
com o meu vestido de seda
rubra
[na lua
já não serve em mim, a brancura
resta agora a água escura
dos teus olhos
para mim fechados]
já não cabe em mim, a doçura
dos anos de outrora vividos
já não cabe em mim...

segunda-feira, fevereiro 13

Aurora

Quero acordar de manhã
e ver-te sossegado, dormindo
cercar-te a cintura
envolver-te num abraço, maroto
receber o teu beijo molhado pela
aurora
esconder-me nos teus braços, tua
fronte na minha
minha boca na tua
os nossos corpos atados, secreta doçura
gotas de orvalho, ardentes,
douradas
rolando fundidas, desaguando
por fim
entre mim e ti
entre ti e mim
- uma só gota

Naturalmente

Quando os teus olhos, amor
com os meus se cruzaram
porque se detiveram, então?

Campo de trigo, onde o sol pousou,
gotas de orvalho, molhando a aurora
recebi o teu beijo,
como o dia, a luz
recebi o teu amor
como o mar, o sal
... naturalmente.
"Incendiasse eu o choro
até o sal se erguer em duna"

- Carlos Frias de Carvalho
Apagasse eu o fogo
até as chamas cairem em cinzas
velhas, cansadas da luta
com uma terra
que não muda.
Humildes chorões, reclinados
Narcisos nas águas de
um rio, que
teimosas
prosseguem...
sem piedade,
... Prosseguem.

Sou

olhei-me no reflexo do espelho
Bailarina, em palco brilhava
rodopiando entre aplausos e ovações

na luz imensa da imaginação

voltei a olhar e
[afinal
sem aplausos, olhares, atenções
sem brilhos, luzes ou cor
Sou mulher, menina ... ninguém.
- Alguém que para alguém sou
- Alguém que para outros ninguém
... apenas EU!
Guardei teu rosto em mim
qual poema na terra enraizado

cicatriz perpétua de uma ferida
efémera
na rocha gravada.
[Eterno...
Apagasse eu o fogo
até as cinzas se erguerem
em pranto
o teu nome a consumir-se
no tempo
fios de silêncio
a reclinar-se
a tua imagem
a diluir-se
nas luz]